terça-feira, 22 de março de 2011

Confissão

Eu era apaixonada. Me entregava de uma forma que nem eu conseguia explicar.
Voce me fazia sentir o mundo, querer o mundo, parecia que voce dominava o mundo e tudo o que havia nele, inclusive meu ser, meu corpo, minha mente, minha alma.
Aquilo me excitava! Seus joguinhos que me faziam ficar sem palavras, sem pensamentos e sem reações. Tensão misturada a tesão.

Sua boca na minha me trazia a sensação de ser totalmente sua. Eu era dominada. Você me dominava. E como dominava!
Minha mente se fundia nun misto de prazer e curiosidade. Queria descobrir tudo o que vinha de você.
Você nunca se apresentou, nunca me disse quem era, sempre cheios de mistérios também não me deixava apresentar-me a mim. Eu era sua e só você conseguia saber quem eu era. Eu só era ao seu lado, mesmo que imaginariamente.

Eu podia fazer o que quisesse: esnobá-lo, procurá-lo ineterrupitamente, fingir que não entrava nos seus joguinhos, agir imaturamente e precipitadamente, tentar fazê-lo inferior.. mas nada o tocava, nada o incomodava, e você sempre me tratava como se nada tivesse acontecido. Isso me implodia por dentro numa sensação tão enubriante que mal sei descrever.
Você não ligava para mim, não tinha consideração alguma e por isso sua consideração era máxima.

Você nunca foi um homem fora do comum, nunca teve nada de excepcional ou especial. Realmente nunca. Mas não precisava, quando tocava em minha mão eu sabia que algo dentro de mim mudava, eu sabia que você naquele momento me manipulava. Eu era sua. E era sua mesmo você não estando por perto!

Eu andava nas ruas de São Paulo parecendo intocavél, na esperança de você me ver e me enxergar mais como mulher, e menos como menina, na tentativa de conquistá-lo terminava por fascinar e inebriar qualquer um, qualquer ambiente que adentrasse. E você nunca me via, nunca me notava... E eu continuava na insensata tentativa de torna-lo tão meu quanto eu era sua.

Você não me olhava, não exatamente, mas quando me olhava parecia que via um mundo inteiro. Quando passava seus olhos demoradamente sobre meu corpo eu tinha a sensação de que não era a mim que observava, mas que sua imaginação via outras coisas, talvez via  o seu mundo que eu tanto invejava. De certa forma parecia que você conseguia enxergar minha alma, visualizar meus desejos mais obscuros, minhas vontades mais secretas.... e de tudo isso você se fazia misterioso.

Você não metia com seu pau. Você vinha com um mundo pra dentro. Você quase não existia como uma pessoa. Sua inexistência era seu charme. Seu abismo, seu mistério.Você fazia com mistério e tudo pra dentro. E eu gostava. Meu gozo era eterno.

A vontade, o desejo e a curiosidade de entender esse seu mistério é que sempre me prenderam a você. Mas não era você que eu queria, era o mundo que eu não conhecia, que me masturbava mentalmente. Me levava ao delirio seu jogo de palavras, seu conhecimento, sua postura sempre inatingivel.

Eu não o amava, eu amava o que eu poderia aprender, o que eu poderia conquistar... Eu amava o desafio de tentar estar ao seu lado. Eu amava a dificuldade que me estimulava mentalmente.

Eu não o amava, eu amava o fato de perceber que não me conhecia, o poder de me conhecer! Eu amava a forma que ele me ensinava, como um professor dedicado, como conhecer-me, meu toque, meu gesto, meu gemido, meu grito.

Eu não o amava. Eu amava a musica que você escutava e que era tão sua que me fazia pertencer a você. Eu amava o sax que você tocava, mesmo sem nunca ter visto. Eu amava a curiosidade do mundo que vinha de dentro de mim, mas só quando eu estava com você. E por tudo isso eu me sentia tão sua. Eu amava a forma que aprendi a voar.

Eu não o amava: eu amava o mundo. E quando desisti de buscar por seu coração, finalmente aprendi a uivar

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