domingo, 23 de dezembro de 2018

Um brinde

Um brinde. Hoje eu o faço!Faço um brinde com a taça de chandon que eu tomei. Um brinde a não vida que eu não vivi. Um brinde às merda as quais me enfiei.
Hoje eu faço um binde. Um brinde ao que procuro e não ao que me cabe. Um brinde ao ar que me brisa e não ao que eu espero para se fazer refrescar.
Hoje eu me brindo a liberdade. A liberdade de aprender a amar, e a me livrar de você.
Hoje, após anos, decidi me libertar da eterna procura de te ter. Decidi que você não sou eu, e que eu não sou você.
Minha gratidão será pra sempre eterna, mas preciso que fique longe de mim. Preciso que continue sua morte, e que meu luto acabe.
Hoje eu decidi que não vou mais brigar por uma sociedade que não é minha: é sua!
Hoje eu decidi que não tenho mais que brigar pelos outros, que tenho que brigar por mim.
Foi você quem quis. Você me levou aos seus atos por amor. Nem sei se te amo mais. Sei que sinto saudade.
Saudade do seu colo. Saudade de suas palavras. Saudade de seu afeto.
Talvez foi teu excesso de afeto que me levou a isso, dizem os especialistas.
Eu digo que talvez foi seu excesso de proteção. Deixasse me matar. Você não podia né! Preferia me colocar em uma bolha. Eu morri dia após dia. Eu pensei dia após dia. Eu me matei dia após dia depois de você.
Eu me feri, não fisicamente. Feri o coração. Deixei ele tão cicatrizado que o cérebro só entendia a lógica, somente os livros, mesmo os que falassem de amor.

Ah, Chico. Um amor tão seu e tão meu. Seus olhos azuis. Talvez como você queria que fossem os meus. Ah politica esquerda. Seu jeito tão simplista de um namorado, que talvez você queria que se refletisse em mim.

Foram-se anos. Onze para ser exata. Ok por mim ter sido rejeitada antes mesmo do nascimento. Ok por mim ter sido rejeitada na vida.

Mas não tá Ok ter sido espancada e você não ter me protegido. Não tá ok eu ter sido abusada aos 9 anos e você nem saber. Não tá ok eu passar a vida toda em busca de uma aprovação, e você não ver e não se envolver, e não me defender.

Hoje brindo. Brindo a despedida que faço de você. Que faço dele. Que faço dela. Que faço de mim.

Cansei desse amor que nunca vem, que nunca faz parte. Cansei dos livros de filosofia e do bem comum. Cansei das lendas romanas e gregas. Cansei de "Conto de Cinderela" e de Lacan ou Freud. Nem Conte me importa mais.

Hoje brindo a mim. Meu nascimento. Não. Natal não é o nascimento de Jesus, é só uma data comercial para aqueles que o ano inteiro se indispuseram fingirem que são bons.

Mas eu ainda sinto falta do seu molho de iogurte no natal. Eu ainda sinto falta das conversas no quintal.

Eu sinto saudade. E raiva.

É como se algo intalasse em minha garganta e não me permitisse respirar. E assim eu ando vivendo, sem que você me permita respirar. Eu preciso sentir o ar sem você. Eu preciso sentir o sol sem você. eu preciso sentir a vida sem você!!

Hoje eu brindo. Brindo ao meu admitir que você não faz parte, você apenas foi parte. Me escorrem lagrimas, panico, segregação, desespero, morte, .... aos olhos realmente admitir que você não sou eu. Como dói.
Nem sei se existe dor maior.

Dói. Fura. Perturba. Infringe.

Espero que você esteja bem. Espero que esse sentimento seja só meu.

Mas hoje eu brindo ao fim.

Após 11 anos admito o fim.

Fica com Deus. Eu vou tentar continuar ficando com a vida.

Aline Zaniboni
Sua filha.