sexta-feira, 11 de maio de 2012

Na calada da madrugada.



Me afogava no meio de toda aquela água que me transportava para a minha própria solidão. Aquele não era um dos momentos em que a solitude era necessária, ela vinha imposta.

Não foi por vontade, tesão ou amor que eu fui. Fui porque tentei fugir de mim, sair correndo de tudo o que me atormenta. Apareceu a oportunidade meio que jogada e fui. Pensei que talvez por algumas horas conseguiria aliviar a sensação areiada que insistem em permanecer em meus olhos todos esses dias, seguidos, hora a hora, ininterruptamente. Fui secando, talvez a vastidão de lagrimas tenha secado muitas outras coisas junto, e assim, mesmo naquele momento que seria de fuga, nenhuma parte do meu corpo aceitava reagir a qualquer estimulo feito.

Nada é tão denso quanto o tempo em silêncio, o silêncio indiferente, de quem fala por falar, aquela intimidade fingida entre estranhos, de um perfume qualquer que fica no travesseiro de um motel qualquer. Intimidade estranha essa onde não se ouvem elogios, não se vêm abraços ou carinhos de cuidado. Momentos em que não  mais existem o desafio de explorar.

É uma mistura tão grande de pessoas, faltas, emoções, razões, instintos e intuições que já não sei pra onde uma termina para começar a próxima. Doí a saudade do amor que tive e recebi e perdi. Faz falta um abraço aconchegante, que em noventa por cento dos momentos tem que ser, de uma pessoa a qual consideremos especial. Não que os que ofereçam não o sejam, mas não sei bem explicar o porquê, eles não atingem o ápice da precisão do momento. 

Talvez seja o meu orgulho ou essa necessidade de independência abstrata. Uma imposição de valores invertidos, prazer antes de preocupação. Falta de compreensão daqueles que mais preciso. Ausência de carinho. Nulidade de preocupação. Indiferença. 

E o fato de ser sempre tão extrema em tudo não me traz paz em quase nada. Uma busca de perfeição incompreendida, até por deuses imortais.

Foi ruim...não, foi péssimo, eu não queria estar ali, estava porque que alguém me perguntasse se estava tudo bem, até um estranho, e só com essas três palavras e as mãos se encostando uma na outra, meu momento teria sido absolutamente contrario. Eu não tinha que estar ali, mas por burrice aceitei mais uma vez. Não, não era burrice, era uma necessidade de qualquer outra coisa, menos daquilo. Meu sorriso foi só disfarce, mas tá ficando ruim de disfarçar.

Uma necessidade de poder demonstrar carência, fraqueza. Uma ânsia de cuidado mesmo que hesitado. Do meu lado, Morfeu adormecido. No meu rosto lágrimas escondidas. Mergulhei na banheira, segurei o ar, tentava afogar tudo aquilo dentro de mim para conseguir me mantar viva, queria que isso não voltasse mais. 

Poderia ter ido embora, chamado um táxi, e parado em algum lugar por ai, sem destino. Talvez me sentiria melhor. 

Um amor dado incondicionalmente, cheio de erros e imperfeições, eu sei, mas é só o que eu venho tentando oferecer e recebo em troca a ingratidão, briga por dinheiro, ingratidão não mascara, escancarada e cuspida, de forma rude. Não sei se consigo oferecer o cuidado que nem eu consigo ter pra mim. Um amago no peito, que queima.... Eu precisava dela, eu precisava dele... eu precisava deles. 

Apoio, gratidão, silêncio, palavras só por dizer, ou mesmo nada. Mas que fosse menos escuro e cruel. A madrugada poderia ser menos fria. 

E mesmo perguntando a ele se queria por um pequeno momento ouvir algo que eu poderia ter a dizer, tive como resposta a negatividade da mão estendida. 

Parei, olhei para as luzes acesas dos carros correndo, cruzando-se as iluminação da rua, percebi que já havia dirigido por mais de quarenta minutos sem destino. Tava na hora de voltar pra casa. Tudo é passageiro, e mesmo depois de tudo isso, eu já volto a tentar arranjar desculpas para essa incompatibilidade  forjada. 

Chorei, e ele não percebeu. Ela não veio me dar a mão. Todos os outros se fingiram de cegos. Enxuguei o rosto, coloquei um belo sorriso, usei a mascara da maquiagem para tirar as olheiras, e fui, continuar em frente, me fechar na minha independência emocional forçada pelo mundo, tentar mais uma vez fingir que nada me incomoda. Continuar com minhas ironias intocadas para o mundo, e um pouco de brutalidade para conseguir me defender. 

O muro continua sendo construído. Urgência de cuidado. Inevitável. Saudade que mata ....

Um comentário:

Edson Marques disse...

Gosto de derrubar muros, não de construí-los.

Teu perfil é delicioso!

Mais flores...